O que são calorias?
“Não comas isso porque está cheio de calorias!”, “Hoje gastei 500 calorias no treino!” , “Para queimares as calorias de uma refeição no Mac tens que fazer 1 hora de corrida!”. São infindáveis as frases que já ouvimos com a palavra calorias pelo meio, mas afinal o que são calorias? Quando se fala de calorias, na verdade queremos dizer a quantidade de energia necessária para elevar a temperatura de 1 quilograma (equivalente a 1 litro) de água de 14,5 ºC para 15,5 ºC. O correto neste caso seria utilizar kcal (quilocaloria), porém, o uso constante em nutrição fez com que se modificasse a medida. Assim, quando se diz que uma pessoa ingeriu ou gastou 500 calorias , na verdade, são 500.000 calorias (500 kcal)
No quotidiano, usamos o termo calorias para referirmo-nos simplesmente ao valor energético dos alimentos. A quantidade de calorias existente nos alimentos difere em função da sua composição macronutricional, ou seja, dos macronutrientes que os compõem. Os macronutrientes existentes são 3 (se não contarmos com o álcool) e têm valores energéticos (por grama) diferentes: hidratos de carbono (4 kcal), proteínas (4 kcal) e lípidos ou vulgo gorduras (9 kcal). Pegando no exemplo da foto seguinte, podemos verificar que o total energético por 100 gramas de produto são 52 kcal. Fazendo a leitura da composição nutricional (por 100 gramas) podemos verificar que este iogurte grego possui 8 gramas de proteína (8 x 4 kcal = 32 kcal) , 5 gramas de hidratos de carbono ( 5 x 4 kcal = 20 kcal) e 0 gramas de lípidos,o que perfaz as 52 kcal referidas no rótulo.
Em todos os alimentos, para além dos macronutrientes existem também micronutrientes (vitaminas e minerais) que não têm expressão a nível calórico/energético.
Então e como podemos saber quantas calorias podemos ingerir no total?
Tradicionalmente, explica-se o ganho ou perda de massa gorda através de uma equação bem simples: obtemos um balanço energético negativo (gastamos mais calorias do que consumimos) emagrecemos, se se verificar o cenário inverso, engordamos e se o equilíbrio energético for nulo, mantemos tudo igual. Apesar de ser redutora, esta linha de pensamento constitui o pré-requisito para se verificar mudanças na composição corporal.
Existem 3 principais contribuintes para o dispêndio energético diário (DED) individual, ou seja, o gasto calórico de uma pessoa:
1- Taxa metabólica basal/repouso
Apesar de existirem diferenças entre estas duas taxas, vou usar apenas a taxa metabólica de repouso (TMR) para designar a energia necessária para um determinado indivíduo manter as funções vitais do seu corpo em estado acordado.Esta taxa é responsável pela maior fatia do DED de um individuo podendo ter uma contribuição entre 60-75%.Os factores que influenciam a TMR são: massa magra,idade,genética,hormonas (tiróide e esteróides) , atividade sistema nervoso simpático,“stressors” fisiológicos (febre,queimaduras,infecções e carência energética) etc.
Existem diversos métodos para aferir a TMR de uma pessoa.Alguns são bastante precisos, como a calorimetria directa,indirecta ou a água duplamente marcada,contudo têm um custo elevado, requerem pessoal treinado e demoram mais tempo para serem realizados. Outros métodos mais imprecisos, que apenas estimam a TMR,são as equações de predição,das quais destaco:
Mifflin – St Jeor
Homem
TMR (kcal/dia) = (10 x peso (kg)) + (6.25 x altura (cm)) – (5 x idade) + 5
Mulher
TMR (kcal/dia) = (10 x peso (kg)) + (6.25 x altura (cm)) – (5 x idade) – 161
Esta parece ser a fórmula mais precisa de todas as que têm em conta o género,peso,altura e idade da pessoa.
Cunningham
TMR (kcal/dia) = 550 + 22 (Massa Magra)
Esta equação tem em conta o a massa magra (peso total – % massa gorda),variável que tem um peso considerável na diferença de metabolismo de repouso entre indivíduos mas que ao mesmo tempo faz com que seja necessário uma avaliação da composição corporal com um método fidedigno.
Apesar de serem métodos simples, de baixo custo e disponíveis universalmente, a sua precisão continua questionável,pelo que devemos aceitar os valores obtidos com alguma reserva.
2- Efeito térmico da atividade fisica
Em condições típicas, a atividade física é responsável por cerca de 15-30% do DED de uma pessoa. Como é óbvio, o tipo e duração da atividade física vai influenciar o gasto calórico. Alguns atletas conseguem quase duplicar o seu DED apenas através atividade física e a maioria das pessoas consegue elevar até 10 x a sua TMR através da atividade física,podendo perceber-se por aqui a importância que o exercício físico tem no impacto a nível da composição corporal.
Existem diferentes métodos para avaliar o dispêndio energético de determinadas atividades, mas tal como a TMR, o valor do efeito térmico da atividade física será sempre uma estimativa. De uma forma muito simplista,podemos usar o factor de atividade ou nível de actividade física usada na fórmula de Harris Benedict para depois multiplicar pelo valor da TMR apurado anteriormente e conseguir o total diário necessitado. Existem 4 categorias a ter em conta com o respectivo factor de atividade associado:
1.2 para indivíduos sedentários (empregos de secretária, sem hábitos de prática desportiva);
– 1.375 para quem pratica desporto leve, 1-3 vezes por semana;
– 1.55 com a prática moderada de exercício, 3-5 vezes por semana;
– 1.725 para a prática intensa de desporto, 6-7 vezes por semana.
3-Efeito térmico dos alimentos
Também conhecido como a termogénese induzida pela dieta, este efeito consiste no aumento do dispêndio energético acima da TMR,que pode ser medido nas horas seguintes a uma refeição, devido aos processos de digestão,absorção,processamento e armazenamento da comida pelo corpo. O seu contributo para o total do DED não ultrapassa os 10%.
4- Outros (clima e gravidez)
Apesar de não entrar no total da percentagem é sabido que os factores ambientais extremos (muito quente ou muito frio) influenciam a taxa metabólica de repouso e que as gestantes possuem uma TMR superior que as suas congéneres.
Como referi , o processo de mudança da composição corporal é demasiado complexo para encaixar numa abordagem tão linear como o balanço energético diário.Existe pessoal qualificado a contribuir, diariamente, para o desenvolvimento do conhecimento nesse campo e vão sendo feitos progressos interessantes na área da nutrição,pelo que temos de acreditar que novas respostas virão num futuro próximo. Até lá vamos tentando consolidar práticas que já demonstraram ser eficazes no controlo do peso 🙂
Nas próximas publicações irei abordar e desenvolver os macronutrientes e micronutrientes um a um. Espero que continuem a acompanhar as novidades!